So os fracos tem vez!

Sejamos sinceros, detestamos a fraqueza que permeia tudo que fazemos. É nauseante admitir a cronicidade da nossa debilidade. Buscamos fugir nos escondendo atrás de um manto de “bom-mocismo” ou na aparente força moral conquistada por nosso próprio suor. Os antigos gregos, diante do mesmo dilema, acreditavam que no extremo norte da terra vivia um povo que gozava de felicidade eterna, os inalcançáveis “Hiperbóreos”, que nunca adoeciam ou envelheciam. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, tendo tal mito como um ideal a ser buscado, declarava que tudo o que é mal se origina da fraqueza, portanto o homem moderno aprendeu a jamais se mostrar fraco. Tal sistema de pensamento é antagônico à Bíblia. Nela, Deus nos chama à exposição de nossas vulnerabilidades e a rejeição de toda “soberba da vida” (1 Jo 2.16). Para o evangelho, depois da queda no jardim, o corpo, os sentimentos, o intelecto, as relações e a sexualidade foram corrompidos. Portanto, precisamos de Cristo. Nele somos redimidos, santificados e justificados, no entanto, nos é constantemente sugerido que abandonemos nossa nova identidade e voltemos às velhas perversidades. É aí que reside nossa fraqueza. Não somos bons por nós mesmos, nem nunca seremos “espirituais” o suficiente para deixarmos de ser tentados. A tentação é parte obrigatória da vida cristã. Devemos espera-la. Na minha história pessoal, não entendi isso facilmente. Durante a adolescência não conseguia parar de ver pornografia. Então, sentia-me muitíssimo mal, pois apesar de orar bastante, fazer promessas a mim mesmo de que não voltaria a pecar, ir à igreja, falar em línguas ou ler vários capítulos da bíblia era tentado outra vez pelo mesmo pecado e, inúmeras vezes, cedia. No fundo, achava que pessoas “espirituais” não sofriam com tentações. Ou que pessoas “fortes” superavam definitivamente, por meio das disciplinas espirituais, os apelos da carne. A conclusão era: sou um fracassado, sou desprezível, nunca serei forte. Note que a ênfase estava no auto esforço, na minha capacidade de produzir um bom comportamento. Descobri que este enfoque na “força” pessoal ofende ao Deus de toda a graça. Na verdade, se conseguisse evitar o pecado sexual, e acreditasse que me mantive puro por conta do meu próprio desempenho, isso, por si só, já seria pecado. Transgressão orgulhosa, centrada nos fedorentos “trapos da imundícia” (Is 64.6) da justiça própria, típica dos fariseus combatidos por Jesus. Temos que admitir nossa total, irrestrita e insubstituível dependência de Deus quando o assunto é pureza sexual. Os que se acham fortes estão próximos da queda. “A soberba precede a ruína, e a altivez de Espírito, a queda.” (Pv 16.18). Ou seja, só estou de pé porque me mantenho consciente de que “o poder de Deus se aperfeiçoa na minha fraqueza”, e que a “graça [de Deus] me basta” (2 Co 12.9). Talvez haja pouco poder de Deus manifesto na igreja, porque poucos estão dispostos a confessar humildemente suas fraquezas. Muitos líderes estão presos no pecado sexual secreto por não terem coragem de revelar a ninguém suas debilidades. Existem membros de igrejas que se escandalizam quando percebem que seus pastores são normais. Alguns mudam de congregação ao descobrirem a humanidade destes líderes. Esquecem que a bíblia ensina que as autoridades religiosas são sujeitas a fraquezas (Hb 7.28). Paralelamente, os que estão em destaque na igreja não prestam conta a ninguém sobre si mesmo para não perder a boa reputação. Vivem no antigo medo codificado na assertiva: “o que vão pensar de mim se descobrirem...”. Portanto, como ser franco, se é assustador ser fraco aos olhos de outros. Diante disso, concluo com uma frase que aprendi e que me tem sido muito cara: “Não caímos por que somos fracos, caímos por nos acharmos fortes”. Ou seja, ser “fraco” é uma realidade inevitável, esse não é nosso problema real. Não estar consciente desta fraqueza, e nos acharmos “super-crentes”, como “hiperbóreos evangélicos” no topo do mundo. Isso nos destruirá. No campo da pureza sexual, só os fracos têm vez. Texto Extraído!